Supply Chain estratégico: transformando operações em resultados sustentáveis

Durante décadas, o Supply Chain – ou cadeia de suprimentos – foi percebido como uma função essencialmente operacional, limitada a atividades como transporte, armazenagem e controle de estoques. No entanto, essa visão reducionista já não se sustenta em um mundo empresarial caracterizado por transformações aceleradas, demandas voláteis, consumidores exigentes, pressão por sustentabilidade e disrupções constantes.

Hoje, o Supply Chain é muito mais do que uma engrenagem que faz a empresa funcionar: ele é o eixo que conecta estratégia, execução e experiência do cliente. É a espinha dorsal que sustenta a proposta de valor de um negócio, garantindo que as promessas feitas ao mercado sejam de fato cumpridas — com qualidade, agilidade, responsabilidade e competitividade.

Supply Chain estratégico: transformando operações em resultados sustentáveis

Em um ambiente onde a previsibilidade desapareceu e a complexidade se tornou regra, a cadeia de suprimentos assume um papel central na geração de valor. Ela impacta diretamente resultados financeiros, reputação da marca, inovação, sustentabilidade e, acima de tudo, a resiliência organizacional. Não à toa, os conselhos de administração passaram a considerar o Supply Chain uma alavanca estratégica. E não mais apenas um centro de custos.

Neste artigo, vamos explorar como as organizações podem transformar seus modelos de Supply Chain em fontes sustentáveis de valor. Esta reflexão foi enriquecida com valiosos insights extraídos da “Prosa com Bertaglia”, a partir de conversas com líderes e especialistas como Alexandre Eboli, Elcio Grassia, Ricardo Ekerman e Moacyr Calligaris. Em cada diálogo, foram debatidos desafios contemporâneos e caminhos concretos para a evolução da cadeia de suprimentos. Abordaremos os fundamentos da excelência operacional, os impactos financeiros e sociais, os indicadores-chave de performance, o papel da tecnologia e da inovação e as competências essenciais dos líderes dessa nova era do Supply Chain.

Mais do que responder às exigências do presente, o Supply Chain moderno antecipa o futuro.

Os fundamentos da excelência em Supply Chain

Uma cadeia de suprimentos de alto desempenho é construída sobre seis pilares essenciais, que devem estar interligados, sustentando uma estrutura estratégica, adaptável e orientada para resultados. Juntos, esses pilares ajudam a transformar o Supply Chain em um gerador de valor consistente e sustentável:

1. Integração com o negócio

O Supply Chain não pode operar como uma ilha. É fundamental que esteja completamente alinhado às prioridades estratégicas da organização — seja para suportar crescimento, lançar novos produtos, aumentar a rentabilidade ou reduzir riscos. Isso exige colaboração efetiva entre áreas como marketing, vendas, finanças, operações, tecnologia e inovação.

2. Visão end-to-end

Ver o Supply Chain de forma fragmentada é um erro comum. A visão ponta a ponta – do fornecedor do fornecedor ao cliente do cliente – permite identificar gargalos, administrar riscos, eliminar redundâncias, reduzir lead times e ampliar o nível de serviço. Essa visão integrada inclui o planejamento da demanda, abastecimento, produção, armazenagem, transporte e logística reversa.

3. Excelência operacional com apoio tecnológico

A excelência não é mais alcançada apenas com processos bem definidos, mas com o uso inteligente de dados em tempo real, automação, inteligência artificial, sensores e plataformas integradas. Tecnologias como WMS, TMS, IoT, blockchain, Inteligência Artificial, Segurança cibernética e Digital Twins estão transformando a forma como cadeias são gerenciadas, promovendo agilidade, visibilidade, confiabilidade e eficiência.

4. Orquestração de expertise

Nenhuma empresa consegue ser excelente sozinha. É necessário integrar fornecedores, operadores logísticos, distribuidores e parceiros em uma lógica colaborativa e estratégica. Compartilhar dados, alinhar metas e construir soluções conjuntas fortalece o ecossistema, estimula a inovação e reduz vulnerabilidades ao longo da cadeia.

5. Desenvolvimento de pessoas e comunidades

As melhores cadeias são conduzidas por pessoas capacitadas, engajadas e com senso de propósito. Investir em educação continuada, segurança, diversidade, bem-estar e desenvolvimento humano não é apenas uma boa prática.  É um diferencial competitivo. Além disso, cadeias que impactam positivamente as comunidades ao redor fortalecem a reputação e geram valor social tangível.

6. Agilidade e resiliência organizacional

Vivemos em uma era de incertezas, rupturas e mudanças constantes. Por isso, a capacidade de resposta rápida e adaptação tornou-se uma prioridade estratégica. Supply Chains resilientes e ágeis conseguem absorver choques, redesenhar rotas, encontrar novas fontes de fornecimento, replanejar a produção e manter o nível de serviço mesmo em cenários adversos. Isso exige planejamento de contingência, análise de risco, visibilidade em tempo real e capacidade decisória distribuída.

Impacto financeiro: O Supply Chain nos demonstrativos da empresa

A cadeia de suprimentos tem impacto direto nos principais indicadores financeiros de uma organização. Entre os principais:

– Receita: A disponibilidade correta de produtos, no tempo e lugar certos, maximiza vendas e fideliza clientes.

– Margem Bruta: Reduções de custo logístico e produtivo, planejamento eficiente e uso inteligente de recursos aumentam a lucratividade.

– Fluxo de Caixa: O controle de estoques, prazos de pagamento e recebimento e redução de perdas impactam positivamente o capital de giro.

– EBITDA e ROIC: Uma operação enxuta e eficiente contribui diretamente para indicadores de rentabilidade e retorno sobre o capital investido.

EBITDA – Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) – É um indicador que mede o desempenho operacional de uma empresa, desconsiderando efeitos financeiros e contábeis. Mostra quanto a empresa gera de lucro apenas com sua atividade principal, antes de descontar juros, impostos e perdas contábeis por depreciação/amortização.

ROIC – Return on Invested Capital (Retorno sobre o Capital Investido) – É um índice que mostra o quanto a empresa gera de lucro operacional em relação ao capital total investido nela (capital próprio + capital de terceiros). Mede a eficiência do uso do capital para gerar valor real para os acionistas.

Indicadores-chave (KPIs) para medir a performance

Sem métricas claras, não há gestão eficaz. Os seguintes KPIs são essenciais para acompanhar a maturidade e os resultados da cadeia de suprimentos:

– Segurança: Indicadores de acidentes e incidentes. Cuidar das pessoas é a base de qualquer operação.

– Qualidade: Medidas de devoluções, não conformidades e desempenho dos fornecedores.

– Serviço ao Cliente: Níveis de OTIF (On Time In Full), tempo de ciclo, lead times e índice de atendimento.

– Custo: Custos logísticos por unidade, transporte por quilômetro rodado, custo por pedido atendido.

– Capital de Giro: Giro de estoques, cobertura de inventário e nível de obsolescência.

Esses indicadores não apenas refletem a saúde operacional, mas alimentam a tomada de decisão tática e estratégica.

 

Sustentabilidade: Um imperativo na nova economia

A sustentabilidade no Supply Chain deixou de ser apenas uma exigência regulatória ou uma estratégia de marketing. Ela se tornou parte do core business.

Empresas líderes já incluem metas ESG (ambiental, social e de governança) em suas operações logísticas. As principais frentes de atuação incluem:

– Redução de emissões: Adoção de transporte limpo, otimização de rotas, uso de combustíveis alternativos e eletrificação de frotas.

– Desperdício zero: Redução de perdas na armazenagem e transporte, reaproveitamento de embalagens e logística reversa.

– Design sustentável: Produtos com embalagens recicláveis, compostáveis ou reutilizáveis.

– Bem-estar animal e práticas agrícolas responsáveis: Nas cadeias do agronegócio, isso se traduz em responsabilidade com o planeta e com os consumidores.

A sustentabilidade tornou-se também um fator decisivo para a atratividade da empresa junto a investidores, talentos e consumidores conscientes.

 

Inovação em Supply Chain: Oportunidade de diferenciação

A logística especificamente, por muito tempo considerada um “mal necessário”, hoje é fonte de diferenciação competitiva. Isso vale especialmente em setores com alta exigência de serviço e complexidade, como alimentos, saúde, tecnologia e varejo.

Alguns exemplos de inovação que agregam valor:

– Centros de Distribuição automatizados e robotizados.

– Uso de IA para roteirização dinâmica e previsão de demanda.

– Torre de Controle Logístico para visibilidade em tempo real.

– Cold chain eficiente para garantir frescor em alimentos e medicamentos.

– Soluções de última milha em áreas de difícil acesso, como favelas e zonas rurais.

Empresas que investem em inovação logística não apenas reduzem custos – elas aumentam a percepção de valor pelo cliente.

 

As novas competências dos líderes de Supply Chain

Liderar uma cadeia de suprimentos moderna exige um novo perfil. O líder de Supply Chain de hoje precisa ser multifacetado: estratégico, colaborativo, adaptável e orientado por dados. Algumas competências-chave incluem:

– Visão Sistêmica: Capacidade de entender o impacto das decisões em toda a cadeia.

– Trabalho Colaborativo: Integrar múltiplas áreas e stakeholders internos e externos.

– Uso da Tecnologia: Saber aplicar ferramentas digitais para resolver problemas reais.

– Capacidade Analítica: Tomar decisões baseadas em dados, simulações e cenários.

– Formação de Equipes de Alta Performance: Atrair, desenvolver e reter talentos.

– Comunicação Clara: Traduzir a complexidade da operação em estratégias compreensíveis para todos os níveis da empresa.

 

Conclusão

O Supply Chain deixou de ser um “backstage” técnico e silencioso para se tornar um palco estratégico, onde se define o sucesso ou o fracasso de uma organização. Ele não apenas executa a operação. Ele conecta o planejamento com a realidade, traduz a estratégia em ação e entrega valor tangível ao cliente, ao acionista e à sociedade.

Empresas que tratam a cadeia de suprimentos como uma vantagem competitiva conseguem antecipar cenários, responder com agilidade a disrupções, inovar em produtos e serviços, conquistar a confiança de seus parceiros e ampliar sua relevância no mercado.

Mas essa transformação não acontece por acaso. Ela exige liderança com visão sistêmica, investimento em tecnologia e pessoas, decisões baseadas em dados, integração entre áreas e um firme compromisso com a sustentabilidade e o propósito.

Cada Supply Chain é único, assim como cada empresa. O segredo está em construir uma cadeia coerente com a identidade do negócio, mas flexível o suficiente para se adaptar e evoluir continuamente.

Em última análise, uma cadeia de suprimentos bem gerida não apenas sustenta a operação. Ela inspira a inovação, impulsiona o crescimento e molda o futuro.

Transformar o Supply Chain é transformar a própria organização.

Ao transformar sua cadeia, a empresa transforma também sua forma de competir, inovar e servir à sociedade.

Por hoje é só. Ao infinito e além. Que a força esteja conosco!

Se você quiser continuar essa conversa, estou no LinkedIn. Será um prazer trocar ideias com você:

🔗 Meu perfil pessoal: https://www.linkedin.com/in/paulobertaglia/

🔗 Página da Berthas: https://www.linkedin.com/company/berthas.com.br/

E não deixe de acompanhar a “Prosa com Bertaglia”, meu canal no YouTube dedicado à disseminação de conhecimento em Supply Chain, Logística, Liderança e Estratégia. Lá, pessoas incríveis compartilham suas experiências de forma generosa e inspiradora.

▶️ Visite: youtube.com/@PauloBertaglia

Nos vemos por aí. No mundo virtual e, quem sabe, em um bom café no mundo real.

🦉 Ao infinito e além!

Compartilhe:
Paulo Roberto Bertaglia

Paulo Roberto Bertaglia

Fundador e Diretor Executivo da Berthas, empresa de consultora especializada em supply chain e cofundador da Aveso, organização que atua conectando o ecossistema de startups, investidores e empresas em busca de soluções. Atuou nas empresas: IBM, Unilever, Hewlett-Packard e Oracle. Ao longo da carreira tem se especializado nas áreas de Supply Chain Management, Gestão estratégica de Negócios, Liderança, Vendas e Terceirização de Serviços. Professor de pós-graduação em Logística, Gestão Estratégica de Negócios e Tecnologia da Informação. É Autor de vários livros, entre eles Logística e Gerenciamento da Cadeia de Abastecimento – Editora Saraiva, 4ª edição – 2020. Realiza palestras de temas estratégicos, cadeia de abastecimento e liderança empresarial para empresas e instituições educacionais, além de consultorias e mentorias. É fundador da Prosa com Bertaglia, movimento voluntário para a educação cujo acesso é: https://bit.ly/3VW9Anp

Logistique Logweb
Perdas no transporte com enchentes no RS superam R$ 1 milhão em quase 40% das empresas, segundo CNT
Perdas no transporte com enchentes no RS superam R$ 1 milhão em quase 40% das empresas, segundo CNT
Pedágio Free Flow cresce no Brasil, mas enfrenta desafios regulatórios e tecnológicos
Pedágio Free Flow cresce no Brasil, mas enfrenta desafios regulatórios e tecnológicos, analisa Aroeira Salles Advogados
DHL lança serviço expresso que entrega amostras clínicas do Brasil aos EUA em até 30 horas
DHL lança serviço expresso que entrega amostras clínicas do Brasil aos EUA em até 30 horas
Brasil bate recorde de exportação de carne bovina para EUA e México em abril de 2025
Brasil bate recorde de exportação de carne bovina para EUA e México em abril de 2025, segundo DATAGRO
Santos Brasil registra lucro de R$ 198,5 mi no 1T25 com alta de 15% na movimentação de contêineres
Santos Brasil registra lucro de R$ 198,5 mi no 1T25 com alta de 15% na movimentação de contêineres
Universo TOTVS 2025, em junho, terá programação exclusiva para logística com foco em IA e eficiência operacional
Universo TOTVS 2025, em junho, terá programação exclusiva para logística com foco em IA

As mais lidas

Nada encontrado
OSZAR »